Quer me ver feliz? Me deixa colocar uma mochila nas costas e desvendar o mundo. Eu simplesmente amo viajar. Mas, quando falo viajar, falo do movimento que se faz para sair daqui e ir para lá. E, o lá pode ser na cidade vizinha.
Descobri o gosto pela viagem através da gastronomia. Desde sempre procuro primeiro pelos pratos e receitas dos lugares que desejo conhecer. Mas, o que era instinto virou profissão e o ato de comer hoje tem outro sentido pra mim.
Continuo buscando aliar o movimento de ir com o prazer de comer. Desvendo menus, cidades, culturas e pratos. E com isso vou conhecendo um pouco de tudo. Passo pelo comportamento das pessoas, pela valorização de quem planta e quem estuda para colocar na mesa mais do que uma receita.
A gastronomia está muito ligada ao turismo e consequentemente à evolução de uma cidade. As pessoas se reúnem ao redor de uma mesa para celebrar, para vivenciar momentos importantes e para fechar grandes negócios. Então comer vai além de alimentar o corpo, tem um quê de encher a alma com história, com emoção e com a cultura que envolve a gastronomia.
Eu sou daquelas que tem lista de restaurantes para visitar, que segue chef’s, que assiste documentários e que sabe identificar uma comida boa. E, pode ser a polenta brustolada feita aqui ao lado e que tem origem na imigração italiana, pode ser no boteco que serve o sanduíche da mesma forma há 40 anos ou no restaurante estrelado que tem fila de mais de um mês para reservar.
Na última viagem – sim, ir para SP pesquisar gastronomia, é viagem sim – eu estive novamente na Casa do Porco, eleito o quarto melhor restaurante da América Latina e o melhor do Brasil, onde tudo é plantado e produzido no sítio da família Rueda. Um case de sucesso para quem veio da roça e transformou o centro de SP. Mas, não é só sobre experiência, sobre comida boa, sobre conceito do lugar (o menu inteiro leva porco, até a sobremesa), mas sobre o todo. Desde o momento de entrar no Instagram e mais de 30 dias antes reservar até o momento de pedir a conta, o atendimento é perfeito.
No dia da reserva você recebe uma mensagem confirmando, na chegada há espaço para espera, na cadeira na rua tem um laço de couro para prender a bolsa e um aviso gentil do garçom: estamos no centro né? Nunca é demais ter cuidado. A entrada é no horário marcado, nem um minuto além. A mesa está pronta e um garçom é designado para no máximo quatro mesas, o que confere à experiência uma precisão cirúrgica.
Cada prato chega na mesa como se fosse uma balé. Entra o prato (instagramável), ele explica o que você vai provar e como deve harmonizar (tem salame com caldo de porco), em que ordem deve comer as iguarias e quando você termina a mágica acontece: os pratos são recolhidos enquanto você beberica o vinho e o prato seguinte chega sem nem você pestanejar.
Pode parecer chover no molhado né? Repetir o que deveria ser regra em todo lugar, mas é muito mais, é muito maior, é muito melhor. A gentileza, o trato, o silêncio com que aquele “Banquete Gastronômico” é servido, é incrível. Sim, eles são tão bons que ousam chamar de banquete. E, quem sou eu aqui para discordar de Jefferson Rueda.
Visitei outros lugares, claro. De jantar a café da manhã. De bar a feira da Liberdade, e, juro, tudo isso é trabalho.
Olhando o mundo de fora, mesmo sendo aqui tão perto da gente, acredito que a gastronomia possa evoluir, que outros tantos lugares como Miado, Forno, Casa do Porco e Mani (os da última ida para SP) vão surgir e que grandes nomes da gastronomia brasileira ainda vão se destacar. Mas o que fica de tudo isso, de cada prato, cada sabor e cada garfada memorável é o que não vai nunca mudar: comida agrega, comida junta as pessoas, alimenta a alma e conta histórias de vida.
E, história de vida, enche a gente de amor e alegria, não é?
Carla Leidens é Relações Públicas e desde sempre entende a importância das conexões e dos relacionamentos, atua na Região das Hortênsias e tem a gastronomia na veia. Ela está sempre atenta a todos os recantos, os melhores restaurantes, os chefs badalados e lugares imperdíveis.