Conheci a Beatriz Flecha em um evento, não lembro exatamente o ano, mas nos identificamos de cara. Ela é leonina como eu, e isso explica a sinergia. Ela é mineira e mora em Gramado há pouco mais de 5 anos. Por que Gramado? perguntei enquanto caminhamos pelo campo de lavanda dentata.

– Queria achar o meu lugar no mundo para viver a terceira idade. Ela, que tem 68 anos, vislumbrava um projeto diferenciado para a segunda metade da vida. Desde criança Beatriz conviveu com a França, a mãe era professora de francês e deixava pairar no ar o charme do país europeu, e ela sempre gostou de lavandas. Então, em 2014, quando visitou Gramado pela primeira vez, ficou com o lugar na cabeça para começar um plantio de lavandas.

Assim nasceu Ai Colli (nas colinas em italiano). Sim, a família tem descendência italiana. Beatriz, e o marido José Carlos, começaram a mexer no solo, estudar a lavanda, seus diferentes tipos e também a preparar o terreno, comprado no Carahá, no interior de Gramado, para ser transformado em uma experiência sobre natureza, ciclos, projetos futuros, amor e dedicação.

Passaram um ano fazendo testes com 9 tipos de lavanda e escolheram 4 espécies para dar continuidade. Em 2018 a safra da lavanda angustifolia ou lavanda fina, foi perdida por uma praga e hoje o plantio é quase todo de dentata, que é o tipo mais comum da planta. A angustifolia está novamente em pauta e todos os dias Beatriz e o marido cuidam de cada muda que é podada, irrigada e toma a quantidade de luz e sol que precisa. Essa espécie é a única com o sabor característico de lavanda que pode ser comestível.

Ai Colli é a primeira produtora de lavanda fina (angustifolia) no estado e o propósito do lugar, e da Beatriz, é muito lindo. Plantar, colher e transformar a lavanda. Ela observa e entende o tempo da natureza e com isso está construindo, dia a dia, passo a passo, um sonho.

Do que ela planta hoje já é produzido Cordial de Lavanda Fina, sabonetes, sais de banho, chá, tempero, descanso para olhos e outras coisinhas que Beatriz vai testando, como o glacê de lavanda, que ela não conta a receita, e tive a honra de provar. Mas, o projeto não é apenas com o plantio das lavandas, todo o terreno está sendo preparado atrair flora e fauna silvestre, com frutíferas nativas, ipês, rosas e recantos para receber pequenos casamentos, casais e pessoas que queiram se desligar do mundo, da correria e encontrar a paz.

No espaço hoje existe a primeira das três tiny house que eles vão construir. O conceito de tiny house é novo no Brasil, mas muito difundido nos EUA, quando em 2008 a crise econômica que assolou o país havia a necessidade de encontrar um estilo de vida mais simples. No Brasil o movimento foi começado por um casal que sofreu uma crise de estresse com o trabalho e a tecnologia e resolveu largar tudo e buscar um estilo de vida mais simples e minimalista.

A Tiny House é um tipo de construção modular com toda uma filosofia embasada no minimalismo. Elas são pequenas, mas com um ambiente prático e confortável em um espaço reduzido, a marcenaria é sempre uma aliada desses modelos construtivos. Outro diferencial desta tendência é estar totalmente ligado à natureza e focado no consumo consciente e isso é totalmente implementado na Ai Colli e pela Beatriz. A Casa da Fada, ou a “Casinha” como é carinhosamente chamada a Tiny House, é super aconchegante, tem o espaço ideal para até 4 pessoas, é locada pela plataforma AIRBNB (https://www.airbnb.com/h/tiny-house-gramado) e está totalmente inserida no conceito minimalista e com total respeito ao consumo consciente e integrada à natureza.

Como diz Beatriz: aqui não tem TV e internet porque a gente lê, observa a natureza, aprecia o céu estrelado e conversa. Fiquei hospedada duas noites na pequena casa e não senti falta de nada, nem da internet. Não tem wi-fi, só o 4G funciona e me permiti desligar um pouco. A banheira de hidromassagem fica colada à cama de casal em um quarto perfeitamente pequeno. As janelas não têm cortina e ao acordar a claridade da rua e o canto dos pássaros dá o tom do dia.

Xícara de café na mão, cadeiras estrategicamente dispostas para a vista que é deslumbrante e sossego. É isso que o lugar oferece. Não tem café da manhã e não há supermercado perto. Ai Colli fica a 13km do centro de Gramado, e, quem quiser se hospedar deve trazer o que vai consumir.

Eu, sabendo deste detalhe fiz um estoque, que segue como sugestão:

Pão, azeite, vinho, queijos, azeitonas, ovos, manteiga e biscoitos. Foi perfeito.

Nas noites frias e estreladas o fogo de chão com vista para o vale e céu negro são simplesmente perfeitas. Por enquanto você pode se hospedar pelo Airbnb, levar seus quitutes e conhecer um pouco mais sobre o plantio das lavandas, mas em breve haverá outras duas tiny house, casa de chá e outros atrativos. Mas, Beatriz avisa, tudo será ponderado, leve, recebendo poucas pessoas, com exclusividade e com todo o amor que o projeto, o lugar e a natureza merecem!